segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Da Evolução e Adaptação dos Seres que Mais Tarde se Tornariam o Ser Humano

Por: William M. Cardoso


 "A História humana começou quando a herança da genética e do comportamento, que até então fornecera o único meio de sobrevivência, foi pela primeira vez quebrado através de uma escolha consciente."
                                                                             J. M. Roberts, em seu livroThe Short History oft he World.



Hoje em dia, no que se referem ao surgimento das espécies, muitas teorias como as de Darwin já se tornaram inquestionáveis, tanto por sua coerência quanto pela quantidade de provas. Adaptação ao meio ambiente não significa apenas se ajustar ao clima, ao tipo de vegetação, relevo e alimentos que o tal local oferece, mas também lidar com predadores e concorrência.
No que diz respeito à concorrência, os nichos ecológicos que tal espécie (em questão, a humana) faz parte, junto de outras. Nisso, há cerca de 55 milhões de anos, quando os mamíferos se dividiram em dois grupos distintos ( roedores e prossímios, futuros primatas), a diminuição na competição favorecia ambos, assim como os fez trilhar caminhos distintos.
Conforme a competição vai diminuindo, o tempo “livre” que os indivíduos terão será essencial para o exercício da mente, se a espécie possuir cérebro suficientemente desenvolvido.“O meio ambiente da floresta, arriscado e muitas vezes batidos pelo Sol, premiou a capacidade de aprender”.[1] É nesse ponto que começa a se desenvolver algo que irá chamar a atenção dos primeiros homens: o polegar. Sobreviveram e se desenvolveram nesse ambiente os primatas que conseguiram se adaptar a árvores, fazendo surgir dígitos longos que auxiliariam a agarrar um galho (ou uma ferramenta, muito mais tarde).
Resultado desses fatores de aprendizado e adaptação foi o surgimento de uma espécie de primatas com cérebros maiores (entre outras características, é claro). Estes foram chamados hominídeos, que viveram aproximadamente entre 25 milhões de anos atrás. Qualidades humanas começam a surgir, como a mudança da dieta vegetariana para carnívora (mudança radical essa, mas talvez tenha sido o primeiro passo para nossos ancestrais se tornarem onívoros). Muitas descobertas interessantes foram feitas, como essa nova dieta, estudando o Australopithecus africanus, um parente. O surpreendente disso é que, no inicio, era complicado para uma espécie descendentes de herbívoros comer carne, uma vez que suas mandíbulas não estavam adaptadas a cortar e mastigar esse tipo de alimento. Descobre-se então, o mais importante: os australopithecus fabricavam ferramentas!
Depois de adaptado ao meio, a espécie que melhor desenvolver seus cérebros poderá encontrar formas de facilitar mais a vida de seus indivíduos, o que lhes permitirá mais tempo livre para se desenvolver mentalmente ainda mais. Quando passaram a comer carne (um alimento concentrado, o que permite que quem o coma não precise repetir a refeição tão cedo quanto quem tem uma dieta herbivora), nossos ancestrais (ou talvez primos, não é certo nosso grau de parentes com os autralopitecus) dispunham de mais tempo livre. Tempo que lhes permitiu reflexão, mesmo que em baixíssimo nível, para descobrirem como fabricar ferramentas que facilitaria mais a vida no ambiente. Mais tarde a dieta onívora (que permitiria uma variedade de alimentos, e assim a sobrevivência mesmo na ausência de um certo tipo de comida), e munidos de ferramentas e cérebros maiores, uma espécie mais próxima de nós usará o tempo livre para começar a desenvolver a criatividade, característica humana além do determinismo da natureza.
O primeiro hominídeo do gênero homo foi o Homo Habilis, que viveu por volta de 2 milhões a 1,4 milhão de anos. Suas principais características eram a habilidade de fabricar ferramentas e o uso de uma linguagem rudimentar. A criatividade de que esse novo gênero dispunha, mesmo que de baixo nível, é um fator que nos permite refletir sobre o homo habilis: primeiro, quanto à fabricação de ferramentas; segundo, quanto a fala.
Sobre a fabricação de ferramentas é importante saber que o interessante não é a fabricação em si, mas o pensamento de construção de algo que facilitará o trabalho. “Facilitará”, com o verbo no futuro. A capacidade de se projetar o futuro é uma característica humana, fazer ferramentas não ajuda imediatamente quem o faz, o equipamento só se faz valer no futuro. Isso que é surpreendente no australopitecus e no homo habilis.
O uso de sistema de comunicação mostra a inteligência, prova o uso do cérebro por parte dos homo habilis. Claro, outros animais também usam sistemas de comunicação, mas a diferença entre os sistemas animais e humanos é obvia. Tal sistema mais rígido, cheio de regras e exceções, no futuro não será usado apenas para comunicação de instruções de caça ou de fabricação de ferramentas, mas também para transmitir sentimentos, projetar o passado e o futuro, e até mesmo que não existe para que possa ser comunicado. “Palavras para dizer eu te amo”, termo que o escritor Ubaldo Nicola usou, em seu livro Antologia Ilustrada de Filosofia, para definir a teoria do filósofo Jean-Jacques Rousseau no livro Ensaio sobre a Origem das Línguas.
Um passo mais para frente na evolução surgiu o Homo Erectus. Uma das características mais marcantes neste é seu tamanho, tanto do corpo, quanto do cérebro duas vezes maior que do australopitecus. Ele era capaz de fabricar objetos mais complexos, assim como sua linguagem, e se vestia com peles (o que mostra que, depois de muito tempo, o clima já não era mais um fator determinante sobre as espécies que se extinguiriam ou continuariam).
Possivelmente o tamanho maior do homo organização se deve a dieta carnívora. Mas carne não brota do chão, como as plantas, logo, surge a primeira habilidade especializada, a caça. A partir daí, não demora muito para surgirem as primeiras sociedades humanas. Outro ponto interessante de se notar é que, como existiria uma sociedade, começa a instituição familiar, e logo a distribuição de deveres dentro da organização. Os caçadores trarão comida para a comunidade, começando a inibição, ou seja, eles passam a refrear os impulsos primitivos de devorar o alimento na hora em que ele é obtido, assim como também começa a armazenagem de comida. Vemos assim, o surgimento não só da organização social, como também de vínculos afetivos para com a família, e consciência de se preparar para o futuro guardando alimentos e ensinando o trabalho as crianças que um dia herdarão aquela comunidade. Começamos a compreender a nós mesmos.
Nesse cenário, cerca de 600000 a. C., na China, ficou registrado para nós, do presente, o primeiro indício do uso do fogo. “Imediatamente significou calor e luz, a conquista do frio e da escuridão”[2]. Assim também surge uma nova variedade de alimentos, agora que o homem pode cozinhar. A carne ficou mais macia, o que poupava as pessoas do trabalho demorado que era ficar mastigando até poder engolir. Novas dietas foram, ao poucos, modificando o molde do rosto e o formato dos dentes dos nossos ancestrais.
O fogo atraia as pessoas da comunidade, assim, cada vez mais, a sociedade toma consciência de si mesma. Agora também com uma boa variedade de alimentos, as comidas estocadas, as pessoas não precisavam mais se preocupar tanto em encontrar alimentos, e podiam comer a hora que quisessem. A vida se tornou menos automática, mais fora do determinismo da natureza. O homo erectus tinha mais tempo livre para seu livre arbítrio, para trabalhar, para iniciar as habilidades artísticas, para conhecer a si mesmo.
Cada vez mais nos encontramos nessa revisão da evolução humana. O Homem de Neandertalé conhecido por enterrar seus mortos e deixar comida e oferendas, mas as semelhanças conosco é ainda maior e mais profunda. A maior parte das pessoas do mundo atual é composto por destros, nenhuma surpresa até então, mas pouco é comentado que os neandertais também tinham essa preferência (ou maior habilidade) pelo uso da mão direita.
Encontramo-nos aqui, o ultimo estágio da evolução até agora: o Homo Sapiens. Surgimos entre 100 e 50 mil anos. Espalhamo-nos por toda terra. Desenvolvemos a arte e a agricultura, entre outras tantas coisas que se pode ver. Inventamos um complicado sistema de comunicação, desenvolvemos senso criativo além do mundo a nossa volta, estabelecendo relação até com o que se duvida que exista. Passamos por enormes mudanças em várias áreas, sociais, tecnológicas, biológicas. Mudamos o mundo. “ (Os homo sapiens) são os únicos que podem conscientemente decidir quanto ao uso e à mudança do mundo. Uma das poucas e boas definições do Homo sapiens é que ele é acima de tudo um animal capaz de fazer mudanças”[3].

[1] J. M. Roberts, em seu livro The Short History of the World
[2] Idem.
[3] Idem.

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